REYNALDO ANTUNES. UM DOS PAIS DA 12 TOQUES NO RJ

A entrevista de hoje é com Reynaldo Antunes um dos principais responsáveis pelo estabecimento da modalidade Bola 12 Toques no Rio de Janeiro através do quiosque Bola & Botão, pelos eventos que organizou, pela criação do Departamento de Futebol de Mesa do Fluminense e pela sua na Federação de Futebol de Mesa do Estado do Rio de Janeiro (FEFUMERJ).

José Carlos – Como foi seu contato com o futebol de botão na infância?
Reynaldo Antunes –  Na minha época de garoto não era difícil ter contato com o jogo de botão. Todo mundo jogava. Desde muito pequeno já comecei a ganhar times dos parentes nos aniversários e no Natal. Mas comecei a pegar mais gosto quando meu irmão, 8 anos mais velho, organizou alguns campeonatos com os amigos dele e eu cheguei a jogar em alguns, mesmo sendo bem mais novo.

José Carlos – Como foi a sua passagem para o futebol de mesa oficial?
Reynaldo Antunes –  É uma história curiosa. Início dos anos 90 e eu, na época, andava meio desanimado com o meu trabalho. Comecei a procurar alternativas para ganhar algum trocado.

Conversando com meu filho Felipe, que tinha uns 10 anos, ele me sugeriu que eu fizesse times de botão para vender para os amigos dele. Achei engraçada a ideia e comecei a procurar tampas de relógio, que era o que eu conhecia, para transformar em botão. Mesmo se não desse em nada, o que era muito provável, eu iria me divertir um pouco.

Numa dessas coincidências que mudam nossas vidas, estava lendo uma revista Placar e, na última folha, havia uma matéria sobre um campeonato de futebol de mesa em um Shopping em São Paulo.

Liguei para vários lugares e, na redação da Placar, me deram o telefone do Élcio Buratini. Na minha primeira viagem para São Paulo pela empresa, fiz contato, fui até a casa dele e lá fui apresentado a um mundo que eu não conhecia. Comprei um time para o Felipe. Na semana seguinte, comprei uma mesa e um time pra mim. E na viagem seguinte para São Paulo, já fui com a ideia de fazer uma parceria com ele. Começava, ali, a surgir o meu contato maior com a regra 12 toques e a Bola&Botão.

José Carlos – Você é um dos pioneiros da modalidade Bola 12 Toques no Rio de Janeiro. Conte como surgiu a Bola & Botão e sobre aquele torneio (nome e ano) no Shopping Via Parque?
Reynaldo Antunes –  Comecei a vender os botões argola, as bolas de feltro e todo o material da regra 12 toques no Rio. Ainda empregado, vendia em bazares, na Feira da Providência e para particulares que me descobriam.

Em 1994 recebi uma ligação de uma pessoa que queria fazer um torneio no Via Parque Shopping, com duração de 15 dias, para 300 pessoas. As inscrições seriam durante a Copa do Mundo e a competição logo depois da Copa. Ele me perguntou se eu faria e eu respondi: “Claro !”.

Até então minha experiência em organização havia sido em um torneio para 8 pessoas no play do prédio do meu irmão. Mas eu havia ido a São Paulo, em 1993, no Clube Indiano, para ver o último dia do brasileiro 12 Toques individual daquele ano e tinha uma boa ideia do que deveria fazer.

E surgiu a I COPA PLACAR VIA PARQUE SHOPPING DE FUTEBOL DE MESA, onde conheci muita gente boa, alguns que jogam até hoje.

Consegui as mesas (umas 20, eu acho ) com o Élcio e ainda trouxe o Márcio, craque de futebol de mesa e filho do Élcio, para passar 15 dias na minha casa para me ajudar na organização. Uma baita aventura. Mas, com o Brasil campeão do mundo nos EUA, o torneio explodiu de gente, teve matéria de 30 minutos no canal Top Sport (depois virou SPORTV) com a Glenda Koslowski e apareceu até no Fantástico.

José Ramos

José Carlos – Qual foi sua partida inesquecível, o gol mais bonito e o adversário mais difícil de enfrentar?

Reynaldo Antunes – Foi no Brasileiro de 2006. Semifinal contra o Almo. O empate era meu. Ele abriu 2 x 0. E eu passei o jogo inteiro tentando colocar a diferença em 1 gol para esperar um erro dele para empatar o jogo. E minha chance aconteceu faltando poucos segundos para o jogo acabar.  Chute da ponta, minha bola de segurança. O jogo terminou 5 x 5, se não me engano.

O gol mais bonito foi esse mesmo, pela confiança e calma em fazer a jogada certa do jeito certo. Adversários difíceis foram muitos. Um que eu lembro é o Sérvio Filgueiras. Quando nós dois estávamos “no auge”, acho que só ganhei dele uma vez. Hoje não, hoje nosso jogo virou pelada. rsrsrs Mas gostaria de citar o José Geraldo Ramos como o meu maior adversário. Contra ele eu fiz as maiores partidas que joguei. Perdi mais do que ganhei, mas ganhei algumas importantes.

Equipe do Fluminense em 2003

José Carlos – Você jogou pela Associação Rio de Futebol de Mesa (ARFM) e criou o Departamento de Futebol de Mesa do Fluminense. Conte um pouco dessa história.
Reynaldo Antunes –  No ano de 1997 organizei um campeonato de futebol de mesa no América. Neste torneio conheci o Bira Borges e o Rodrigo Adão. Conversamos sobre a necessidade de termos um local fixo para que os interessados pudessem jogar pois, muitas vezes, fazíamos torneios, as pessoas se interessavam, mas depois perdíamos o contato com elas. O Bira, então, me disse que conhecia uma pessoa que poderia nos ajudar a conseguir uma sala. E me apresentou a esta pessoa que era, simplesmente, o Jorge Paulo. Ali mesmo já acertamos que se ele conseguisse a sala eu conseguiria as mesas. Nascia a ARFM que durante anos teve suas atividades na sala conseguida pelo Jorge Paulo no Colégio Santa Dorotéia.

Em 2000, depois de algumas divergências com a Liga de Futebol de Mesa do estado do Rio de janeiro (LIFUMERJ), onde a ARFM estava filiada, decidimos que era o momento adequado para criar a modalidade 12 toques na FEFUMERJ levando a ARFM para lá. Eu já vinha pensando na possibilidade de ter os clubes de massa do RJ participando das competições do RJ, assim como acontecia em SP, por exemplo, onde Palmeiras, Corinthians, Santos e outros clubes de tradição já disputavam as competições. Achava que seria importante para o desenvolvimento do esporte no RJ.

Como sou torcedor do Fluminense e o Luiz Claudio, que jogava conosco na ARFM, era Conselheiro do Fluminense, fomos ao Clube para ver a possibilidade de criação de um Departamento de Futebol de Mesa no Clube. Fomos super bem recebidos. Fizemos mais algumas reuniões e só nos foi exigido pelo diretor que teríamos que ser sócios do clube, na modalidade sócio atleta, e que o Fluminense fosse bem representado nas competições não só em termos de resultados como também, na parte disciplinar. Eu e o Luiz Claudio assumimos este compromisso. Depois de mais alguns dias recebemos uma carta do Fluminense, assinada pelo então Presidente David Fischel, solicitando a filiação do Clube na FEFUMERJ

Desafio BR de Futebol de Mesa

José Carlos – Outro torneio marcante foi o Desafio BR Distribuidora (ano?) no Shopping Tijuca. Poderia dar detalhes desse evento?
Reynaldo Antunes – O Desafio BR e o Torneio da Brahma tiveram o início da mesma forma que os Torneios do Via Parque. As empresas que estavam cuidando do evento já tinham projetos e orçamentos aprovados. E eu fui contactado apenas para cuidar da organização técnica das competições, já que eles não possuíam essa experiência.

Oscar Schmidt no Desafio BR

O Desafio BR foi muito bom e correu tudo muito bem. A FEFUMERJ e vários atletas que jogavam na época deram uma contribuição muito grande na organização. O Flamengo e o Grajaú Country cederam suas instalações para a primeira fase da competição. Foi um trabalho de equipe muito bem realizado. No dia das finais, conseguimos levar o Oscar Schmidt ao Shopping Tijuca e ele, com o seu carisma, transformou o evento em uma bela festa. Infelizmente tivemos apenas uma edição deste evento.

José Carlos – O Torneio Chopp da Brahma foi outro evento importante. O que você poderia contar sobre ele?
Reynaldo Antunes – O Torneio da Brahma não rendeu o que eu achei que poderia ter rendido. Foi um torneio difícil de organizar, pois os jogos eram realizados em vários locais ao mesmo tempo e acho que não houve um entrosamento perfeito entre a equipe promotora do evento e a nossa equipe composta, mais uma vez, pela FEFUMERJ e por vários atletas que colaboraram muito. Acho que eles não confiaram muito na nossa capacidade de organização, resolveram assumir algumas funções que seriam nossas e isso acabou atrapalhando um pouco.

Outra dificuldade foi que alguns donos dos bares não gostaram muito por terem que “matar” algumas mesas onde clientes poderiam consumir, para montar as mesas para os jogos e tivemos algumas dificuldades.

Mas a competição aconteceu no RJ e em SP. Em alguns bares tive relatos de que havia sido muito bom. Conseguimos levá-la até o final e, pela grandeza e pela divulgação em vários lugares, foi uma competição que teve sua importância e fez parte do caminho da nossa modalidade aqui no RJ.

Reynaldo no Campeonato Brasileiro de 2005

José Carlos – Você foi campeão Estadual Individual Adulto e Máster na Bola 12 Toques. Qual o título que você gostaria de ter conquistado e não conseguiu?
Reynaldo Antunes – Antes de mais nada, não posso deixar de colocar nessa lista também o título do I Torneio Rio-São Paulo Máster, em 2002. Principalmente por ele ter sido disputado dentro da sede do Fluminense e porque, no dia da final, aquele diretor que havia me pedido para o Fluminense ser bem representado nas competições, estava no ginásio e pode ver, ao vivo, um atleta do Fluminense ganhando uma competição importante. Poucas pessoas souberam, mas esse título acabou tendo sua importância para a continuidade da equipe dentro do Clube.

I Torneio Rio-São Paulo Máster – 2002

Sobre o título que eu gostaria de ter conquistado e não consegui, sem dúvida, foi um brasileiro na série ouro. Fiz duas finais. Nas duas os jogos terminaram empatados e, nas duas, o empate era dos meus adversários. Faltou pouco. Mas o Erismar e o Dudu tiveram todos os méritos e foram grandes adversários. Jogar uma final de brasileiro com o pessoal em volta vendo o jogo é uma experiência e tanto. Muito bom.

Reynaldo Antunes foi um dos homenageados no All Star Games 2016

José Carlos – Você teve cargos na FEFUMERJ. Fale sobre essa experiência.
Reynaldo Antunes –  Eu sempre tive essa tendência por querer organizar as coisas. Na época de garoto organizava o time da rua. Nos famosos campeonatos de Pelada do Jornal dos Sports, jogados nos campos do Aterro, juntava os colegas, fazia a inscrição, arrumava o dinheiro, comprava as camisas … e, assim como no futebol de mesa, ainda jogava. Na FEFUMERJ não foi diferente. Era trabalhoso, mas era muito gratificante ver os resultados que conseguíamos e mais gratificante ainda era trabalhar junto com amigos que resolviam entrar no mesmo barco. O apoio que recebemos da Federação Paulista, em momentos difíceis, principalmente nas figuras do Élcio Buratini e do grande Edu Henrique, foram outra grande motivação.

Tivemos alguns problemas e tive alguns atritos até com alguns bons amigos, mas tudo contribuiu como aprendizado. O melhor de tudo é poder olhar para trás e achar que fiz o que eu gostaria de ter feito e ter contribuído, de alguma forma, com algum legado para o futebol de mesa do Rio de Janeiro.

Reynaldo Campeão Estadual Máster em 2003

José Carlos – Apesar de ainda termos atletas de alto nível, a modalidade Bola 12 Toques vive um grande esvaziamento no Rio de Janeiro? No seu entender, quais são os motivos para esse fenômeno e como ele poderia ser revertido?
Reynaldo Antunes – Discussão longa para vários dias de debate que, infelizmente, nunca foi encarado como deveria aqui no RJ. São muitas as causas.

A primeira delas é que o ciclo natural das coisas é assim mesmo. É comum um movimento surgir, ser novidade, crescer, durar um tempo e depois começar a virar rotina e ir perdendo interesse. Durante o processo é preciso ir percebendo as fases para aproveitá-las, mas sempre pensando no que fazer para manter o nível de interesse de todos. Há muitos anos, em uma reunião da FEFUMERJ, acho que o Milton Pedreira ainda era nosso presidente, eu comentei que com o trabalho voluntário que fazíamos e com o rateio das despesas pelos participantes, havíamos chegado ao nosso limite de competência. A partir dali, se quiséssemos mudar de patamar, teríamos que buscar recursos externos e remunerar as pessoas que iriam trabalhar no movimento. Nunca conseguimos passar para essa fase. A motivação dos participantes foi caindo.

Somando-se a isso:
– Há anos jogamos as mesmas competições, nos mesmos lugares, do mesmo jeito, contra os mesmos adversários,
– tem muita gente pensando nos resultados individuais e do seu clube e pouca gente pensado no movimento, como um todo,
– o movimento cada vez se fecha mais em grupos, salas e competições pouco atrativas para o público externo,
– falta de renovação,
– a eterna falta de divulgação, mesmo com as redes sociais bombando como acontece hoje, Além de vários outros …

O que fazer, exatamente, eu não sei. Tenho ideias. Mas o caminho que deveríamos seguir para identificar o que fazer, acho que deveria ser:
-Jjuntar pessoas dispostas a pensar no coletivo,
– debater ideias,
– montar um plano com ações interligadas, com objetivos definidos e que levem ao objetivo maior de resgatar o interesse pela modalidade,
– definir quem vai gerenciar o plano,
– colocar o plano em execução.
Resumindo, é hora de parar, se questionar e MONTAR UM PLANO. Com atitudes isoladas, mesmo bem intencionadas, acho que não será possível.

Reynaldo, Felipe e Marquinhos

José Carlos – Finalmente a pergunta que não quer calar. Você é um grande jogador e seus dois filhos – Felipe e Marquinhos – também. Afinal, quem é o melhor Antunes no futebol de mesa?
Reynaldo Antunes –  Essa é fácil. Eu nunca fui um grande jogador. Eu sempre fui um bom competidor. Cresci no meio do esporte e participando de competições oficiais. Além de apreciar o talento dos gênios, minhas inspirações no esporte são Bernardinho, o líbero Serginho, Nadal, Dunga, Robert Scheidt … gente dessa linha. Quando eu tinha o quiosque, jogava todo dia, estava treinado, sabia competir e andei ganhando algumas coisas.

O Felipe era um bom jogador também, mas a motivação maior dele era a convivência com os amigos e com a equipe do Fluminense. Desanimou cedo por causa das confusões e do comportamento de alguns na época do auge das confusões no futebol de mesa do RJ.

O melhor Antunes do futebol de mesa é, disparado, o Marcos. Tenho que reconhecer que você, José Carlos, há muito tempo já falava isso. E, nessa disputa, pode colocar ainda outros sobrenomes que ele ainda vai ser considerado entre os melhores. O Marcos é craque.

José Carlos – Reynaldo. Muito obrigado por aceitar conceder essa entrevista ao o site da FEFUMERJ.
Reynaldo Antunes – Valeu pelo convite para participar desse conjunto de entrevistas.