O FUTEBOL DE MESA EM SALTO, URUGUAI
Salto é uma cidade situada a 498 km de Montevidéu. Localiza-se na margem oriental do rio Uruguai, limitando-se com a cidade de Concordia, na Argentina sendo que os dois centros urbanos são conectados por uma ponte. Salto é a segunda maior cidade do país, com cerca de 100.000 habitantes, sendo superada apenas pela capital. Nesta cidade existe uma forma de futebol de mesa.
Minhas primeiras lembranças relacionadas ao futebol de botão são da infância, aos 5 ou 6 anos assistia aos campeonatos que eram realizados ao lado da minha casa, onde vivia a família Amarillo. Jogavam Hebert Amarillo (meu professor e grande jogador), Julio Tripodi, el “Flaco” (Magro) Nis e outros. Pelo que eu ouvia falar nesse momento, eram realizados grandes campeonatos na Associação Cristã de Moços, mas eu não tinha acesso. Parece ser que, em meados da década de 60 (aparentemente por parte de un professor de educacão física brasileiro), foi introduzido o jogo nessa associação, muito apropriado para os dias em que o clima não permitia atividades ao ar livre.
Com 6 ou 7 anos de idade começei a reunir meus primeiros botões, pois sempre joguei apenas con autênticos botões de roupa; e até joje, penso que é a melhor opção, embora sem dúvida a mais difícil: deve-se conseguir o botão adequado, lixar, polir, decorar-lo, etc.
Em 1970 já tinha vários times: Peñarol, Nacional, Racing e especialmente Huracán Buceo, o primeiro dos meus times do qual recordo seus jogadores: Alfano, Mier, Aguerre… neste momento, o hoje modesto Huracán Buceo causava sensação Montevidéu. Sempre jogava com meu primo Roberto Fioritti; até hoje a partida entre nós é “el clássico” e seguramente, o ganhador deste “derby” tem muitas chances de ser o campeão do torneio que esteja sendo disputado.
Foi a Taça Independência de 1972 la que transformou nossos times em seleções internacionais: finalmente tínhamos informações sobre os planteis completos para “personalizar” nossos botões. Nesse ano Roberto adotou a seleção da Alemanha para ser sua equipe (também jogava com a Iugoslávia e com a Checoslováquia), a partir de então, e ate o momento, somente tem competido com times alemães. Seja a “Nationalmannschaft” ou os clubes da Bundesliga. Meu time principal, com eus 10 ou 11 anos de idade era a Escócia de Clark, Morgan, Donachie, Hartford, etc. Nascia minha preferência pelo futebol europeu.
No final deste ano, recibi o melhor presente que já me deram até hoje: Hebert Amarillo, me deu (dentro de uma caixa de “Redoxón”) um time de botões: os jogadores tinham o escudo do Peñarol, mais eu o rebatizei como “Feyenoord”, a equipe sensação da Europa naquele momento. Um fato curioso é que recordo ter escrito na caixa o nome original do clube holandês: Feijenoord.
Eu e Roberto tínhamos, cada um, muitos times: era a maneira que encontramos de fazer grandes campeonatos, pois não conhecíamos outros botonistas. Os velhos botonistas já não jogavam e somente se juntava conosco, em alguns torneios, Julio Cardozo, um vizinho que chamava seu time de “Boca Juniors”.
Em 1974 aconteceu a inesquecível Copa do Mundo da Alemanha e com quase 12 anos tive uma certeza: o futebol da Europa era el melhor. Entre minhas equipes estavam a Holanda (com aquela numeração estranha… Jongbloed era o 8, Suurbier o 20, Van Hanegem o 3, Polônia, Escócia, Suécia.
Em 1975 entrei no segundo grau e, uma tarde, antes de começar a aula, alguém me deu a notícia: Pelé jogaria nos Estados Unidos em clube que se chamava “Cosmos”. Que nome mais lindo! pensei. Seria ótimo ter um time de botões que se chamasse Cosmos. Foi muito difícil conseguir nomes dos jogadores daquele time. Recorri às revistas, jornais e televisão. No final de 1976 consegui completar os nomes daquele que, na minha carreira de botonista, seria uum dos meus times mais importantes: New York Cosmos. Durante o ano 1977 cheiguei a considerar-me invencível jogando na minha mesa (que para mim era o Giant Stadium de New Jersey). Yasin, Carlos Alberto, Morais, Roth, Rildo, Etherington, Dimitrijevic… e claro, Chinaglia e Pelé, que finalizou sua carreira em um dia inesquecível em outubro. Também había um jovem jogador chamado Santiago Formoso que se converteu em um dos ídolos da minha adolescência e, caso único, tenho um botão que está “batizado” assim. Não podia deixar de contar que graças ao Facebook, Santiago é meu amigo, e me tem contado muitas coisas de aquele Cosmos “galáctico” e eu pude contar-lhe sobre esse “jogador” que leva seu nome.
Sempre pensei que o ano 1977 foi “o ano em que crescemos”, na escola secundária organizávamos os campeonatos que jogávamos nos domingos pela manhã, na minha casa. Meu time principal era o Brasil, e tinha um atacante pequeno, de color verde, que se chamava Paulo César, era un goleador incrível, temido pelos rivais; somente em 1977 fiz com esse botão quase 300 goles, uma quantidade que somente se pode explicar porque jogávamos imenso números de partidas.
Desde esse ano registro cada partida que jogo, com o nome do rival, o dia, o resultado e meus botões que fizeram gols. Participavam desses torneios Aurelio “Lucho” Vives, um jugador excelente, frio, calmo, calculador e con uma técnica apurada. Quando Lucho se juntou a nós, todos nos beneficiamos e, por sugestão sua, mudamos o tamanho das traves para uma medida mais de acordo com o “standard” brasileiro. os campeões desses domingos usualmente eram três: Vives com o Nacional, Roberto com a Alemanha e eu com o Brasil. Também participavam Luis Monchietti, Elder Lerena, Elsio Félix, José Avelino, Antonio Galli e Enzo Miñón.
No início dos anos 80 decidi que meus times teriam nome imaginários, com os quais podia identificar-me mais. Desde menino havia inventado um país – Pintachuelo -, no qual havia (como não podia deixar de ser) equipes de futebol. Assim surginam Pintachuelo FC, Hillary-Fockx, Vivac, Sporting e Lancaster. Os times de José Avelino eram Atlantes, Solingen, Tornado, Olympic e SOT United, Elsio Félix também tinha seus time. Nessa época se uniram ao nosso esporte Mario Bernasconi (hoje vivendo na Espanha) e Fernando Da Costa. Se havia “transferências” de botões o nome se mantinha, quer dizer o botão mudava de proprietário mas não de identidade. Roberto Fioritti manteve seus times da Bundesliga.
Nos anos 80 os estudos e o trabalho nos deixavam menos tempo para os botões, pero nunca abandonamos el jogo. Os campeonatos se tornaram menos frequentes, mas a rivalidade “interna” com Roberto seguia sendo incrível e nossa técnica nos parecia muito boa. No final dessa década José Avelino anunciou sua aposentadoria das mesas de jogo. perdemos o único botonista que podia ser o mediador nos torneios. Avelino era, e ainda é, admirador da Itália, talvez por esse motivo sempre utilizou uma retranca (“catenaccio”) quase intransponível, fazendo um jogo ultra defensivo e pouco vistoso, mas nem por isso pouco efetivo. Seus retorno são ocasionai, para disputar algum campeonato, mas não joga mais de forma assídua.
Em 1988 formei um novo time ao qual chamei VK 67 (Victoria Kickers 1967), tem sido, desde então y de longe, meu time mais exitoso e como qual mais campeonatos tenho ganhado.
Me casei em 1990, levando para o ato civil e para a cerimônia na Igreja, meus botões favoritos no bolso do paletó: Hoftaters, Kenat y Bohuelmo me acompanharam, para a surpresa de todos.
Em 1993 fizemos um grande esforço para recuperar o velho esplendor dos ano 60; realizmos em fevereiro desse ano uum grande torneio com 16 participantes (para nossos padrões foi um recorde) que foi brilhantemente vencido por Mario Bernasconi (que hoje vive em Madri, Espanha) com sua equipe “Cyndal”. Embora campeonatos com essas características não tiveram lamentavelmente continuidade, o fato teve um grande valor simbólico, porque as partidas foram realizadas nas instalações da Associação Cristã de Moços, precisamente no lugar onde o futebol de mesa havia nascido em Salto.
Jogamos sempre “um toque” e os jogadores, incluindo o goleiro somente podem ser botões de roupa, que limamos, polimos e decoramos para transforma-los em verdadeiros “jogadores”. Não nos parece uma boa ideia que se jogue com 10 botões e um prisma, não nos parece lógico e nunca tentamos adotar essa opção. Os plantéis de nossas equipes são geralmente em torno de 18 ou 20 jogadores com características bem diferentes que é, em nossa opinião, o mais importante de para manter a ideia de jogar com “verdadeiros botões”.
Recentemente temos cristalizado nosso desejo de ter mesas de jogo muito boas; uma vez más, através da experiencia, temos comprovado que devíamos aplicar nossas próprias soluções. Asim, descobrimos que materiais como o MDF não resultavam ser uma superfície adequado, pois os botões se deslizavam demasiadamente. Desta maneira nossas canchas atualmente são de placas de madeira natural. Atualmente estamos assistindo a um renascimento del futebol de mesa. Agora dispomos de estadios adequados, e graças à internet nos fazemos contato com botonistas de todo o mundo. De maneira quase simbólica, tenho em meus times botões que me foram enviados da Polônia da Sérvia (e que foram batizados com nomes típicos desses países) e temos mantido contactado com alguns amigo de Montevidéu para que joguem algumas partidas.
É difícil falar de títulos. Em razão da nossa débil organização não podemos realizar torneios que sejam algo mais que reuniões entre amigos, não tenho dúvidas que embora, no nível pessoal ganhei muito, prefiro vencer “el clásico” contra Roberto Fioritti, meu rival de sempre. Entretanto, um título que me enche de orgulho: sou botonista de alma, desde que me conheço por gente e ainda vivo cada partida com a mesma intensidade de sempre. Creio que é minha missão difundir e promover este esporte e, quem sabe, talvez um dia, em algum llugar, possa jogar uma partida com Geraldo Décourt.
Texto: Nicolàs Bernabé (Jimmy) Pagani
Nota: Peço desculpas ao autor se a tradução não foi literal. Apesar de viver em um país onde essa é a língua oficial, meu espanhol é o popular (callejero) e não o acadêmico, desta maneira, alguma coisa sempre me escapa. Gostaria também de citar que, mesmo vivendo em países diferentes, a história de vida do autor e a minha, quando relacionada ao futebol profissional e ao futebol com botões, é muito parecida, o que me emocionou ao traduzir o texto. Essas semelhancas, certamente, se devem ao fato de fazermos parte da mesma geração. O lúdico, o transporte dos craques dos gramados para a mesa de madeira é, certamente, o ponto comum entre todos que praticamos as diferentes modalidades desse apaixonante esporte, independentemente do nível de organização envolvido, da idade do jogador e do local do mundo onde vivemos.
Maiores informações em http://www.actiweb.es/asfmb/ e no Facebook
José Carlos Cavalheiro (Diretor de Comunicação FEFUMERJ)