ENTREVISTA COM RONALD NERI: “VAMOS EM BUSCA DO TRI”
Ronald Neri: nome e sobrenome de craque na arte de jogar futebol de mesa. Um dos ícones da modalidade dadinho 9 x 3, o atleta do Flamengo fez história e conquistou o bicampeonato brasileiro 2022/2023, ao bater Victor Praça, do América, outro monstro das mesas, por 2 a 1, dia 22 de outubro, em Curitiba. Detalhe, com uma campanha invicta — foram 15 vitórias e cinco empates em 20 partidas emocionantes, nas quais, além da habitual técnica, o rubro-negro esbanjou sangue frio para colocar mais um troféu em sua vasta coleção. Com o título, Ronald se igualou a Daniel Marques e Alex Lage em número de conquistas do Brasileirão, que tem como maior campeão Brayner Wertmuller, que ergueu três vezes o troféu de campeão individual da modalidade. Feliz com seu desempenho no Clube Curitibano, na capital paranense, Ronald deu esta entrevista exclusiva sobre sua façanha na competição, que contou com a presença de 150 botonistas de vários estados do país, e revelou um segredo que resume sua dedicação ao esporte: já pensa em faturar mais um Brasileiro, ano que vem, em Porto Alegre.
1) Bicampeão brasileiro de futebol de mesa na modalidade dadinho 9 x 3. Poucos tiveram capacidade para realizar tal façanha. Como você define seu feito? Chegou a imaginar, quando começou a dar suas palhetadas, ainda garoto, alcançar este privilegiado patamar?
“Algo impensável devido à dificuldade do torneio. Sempre sonhei em conquistar o Brasileiro individual, que consegui ano passado, mas dois seguidos nunca imagnei”.
2) A decisão deste ano foi contra Victor Praça, outro craque das mesas e campeão brasileiro em 2019. Como você define a final de 2023, na qual vocês brigavam pelo segundo título desta competição?
“Um jogo extremamente difícil e tenso. Nossos jogos sempre são lá e cá. Foi uma final de muita estratégia”.
3) No Brasileiro deste ano, você obteve 20 vitórias e cinco empates, com uma campanha invicta. Qual o segredo para um desempenho tão arrebatador?
“Acho que sempre encarar todos os jogos como uma final. No primeiro dia acabei com 100% de aproveitamento em 12 jogos, depois tive alguns empates”.
4) Além da final, quais foram os jogos mais difíceis? Chegou a correr o risco de ser eliminado precocemente?
“Sim. Os jogos mais difíceis foram nas oitavas e nas quartas-de-final. Nas oitavas, contra o Sarti (Flamengo), eu estava ganhando por 5 a 2, mas ele empatou em 5 a 5 e ainda teve um último chute na trave. Nas quartas, até o final eu estava perdendo para o João César (América), por 3 a 2, e consegui empatar”.
5) Uma competição de tamanha importância exige não só técnica, mas concentração e mentalidade forte. Como você alia tais características?
“Concentração e foco total acima de tudo, nunca desistindo do jogo”.
6) Como foi sua preparação para o Brasileiro tanto técnica quanto psicologicamente?
“Na verdade, não faço preparação alguma. Procuro não pensar muito na competição para não gerar ansiedade”.
7) Qual o segredo para atuar por tantos anos em nível tão alto? Que recado daria para quem sonha, um dia, ser um Ronald Neri?
“Após 25 anos jogando e ainda estar entre os primeiros realmente é muito difícil. Acho que a dica é se reinventar sempre e estudar o jogo”.
8) Ao todo, foram 150 botonistas lutando pelo título, no Clube Curitibano, na capital paranaense. Como você avalia o nível da competição?
“Nível altíssimo. Cada ano que passa as pessoas estão jogando melhor. Não existe mais jogo fácil”.
9) E o nível do dadinho atualmente no Brasil?
“O nível está cada dia melhor. O pessoal de outros estados está jogando cada vez mais e isso tem nivelado os jogos”.
10) O Rio de Janeiro teve os oito melhores colocados na Série Ouro do Brasileiro. Os cariocas realmente formam a nata da modalidade no país?
“O Rio de Janeiro é culturalmente o berço da modalidade dadinho. Aqui se joga com o dadinho desde o início, nas décadas de 1950 e 1960. Normal que o pessoal daqui tenha uma facilidade maior”.
11) A que você atribui o elevado nível dos jogadores que defendem os clubes do Rio de Janeiro?
“Acho que isso se deve ao fato de estar sempre jogando entre si. Quando você sempre joga em um nível que te exige esforço máximo, naturalmente você evolui”.
12) Quais jogadores você destaca no Estado do Rio? E no restante do Brasil?
“Difícil citar todos. Minas Gerais tem vindo muito forte, assim como Paraná e Brasília, onde o dadinho foi implantado antes. No Rio de Janeiro posso citar alguns como Bruno Romar, Ricardo e Lucas Mendonça, Victor Praça, Brayner, Bandini e Paulinho Quartarone, entre outros”.
13) A prática da modalidade dadinho tem se expandido cada vez mais não apenas no Rio de Janeiro, mas em todo o Brasil. Como você vislumbra o futuro do esporte?
“O futuro do esporte passa por uma renovação que hoje não temos. É isso que precisamos buscar. Em relação aos estados, a ideia é sempre apoiar ao máximo para que não parem de crescer”.
14) Um é pouco, dois é bom e três é bom demais. Após bater Paulinho Quartarone (Fluminense), em 2022, e Victor Praça (América), em 2023, vem aí o tricampeonato, ano que vem, em Porto Alegre?
“Quem sabe (risos). Meu objetivo era ganhar um e já consegui dois. Vamos em busca do Tri”.
Alysson Cardinali | Diretor de Comunicação Dadinho | FEFUMERJ