BRUNO MACHADO. O MESTRE
A entrevista de hoje é com o Bruno Machado, também conhecido como Bruno Mestre, atleta do modalidade Bola 3 Toques e vice-presidente dessa modalidade junto à Confederação Brasileira de Futebol de Mesa (CBFM) e vice-presidente geral da Federação de Futebol de Mesa do Estado do Rio de Janeiro (FEFUMERJ).
José Carlos – Como foi seu contato com o futebol de botão na infância?
Bruno Mestre – Desde muito novo comecei a jogar. Primeiro, com meu pai, jogando com botões Brianezi, algumas tampas de relógio e depois os famosos botões Bertisa com os escudos gravados em dourado. Com minha mudança para Brasília, ainda bem novo, passei a jogar bastante por lá, em campeonatos da quadra na qual morava e entre colegas de escola. Ou seja, sempre foi algo presente na minha infância. Jogávamos com bolinha, dadinho, pastilha… Rsrsrs
Depois do retorno da família ao Rio de Janeiro, no final dos anos 90, passei a jogar, a convite do meu pai, em um estúdio de música na Glória. Era um grupo sensacional, organizado pelo grande Chiquinho, hoje jogando em Niterói. Além dele, conheci por lá o André Leal, que se tornou em grande amigo e excelente botonista da modalidade dadinho, além do Alexandre, Flávio e outros mais. A partir daí, fui me inserindo na modalidade dadinho. O Chiquinho criou a AFOCEN, localizada em Piratininga, Niterói. Pela AFOCEN disputei algumas competições, dentre elas a Copa do Mundo disputada na Barra da Tijuca (ASBAC), se não me engano em 2002. Nesse período conheci outros polos de prática, como a Botão Mania na Praça Edmundo Rêgo, no Grajaú, comandada pelo José Alexandre (Fluminense), a loja do Edu em Ipanema, a Rex/Maxwell e outros locais. Praticava sem muita regularidade devido aos estudos e trabalho.
Em 2005 retornei para Brasília, por razões profissionais. Lá, pude ajudar um pouco no início da modalidade dadinho no Distrito Federal (DF), participando do Bola Quadrada e auxiliando no excelente trabalho realizado pelo Marcus Amorim, Bruno Romar e outros. Ainda em Brasília, posteriormente, conheci a Regra Carioca, ou 3 Toques, modalidade que pratico hoje. Foi amor à primeira vista (e primeira goleada sofrida!!). Rsrsrs. Detalhes: a modalidade é praticada no DF desde 1979. E a aproximação entre os grupos da modalidade 3 Toques e dadinho, que é recente, foi muito benéfica para todos.
José Carlos – Quais foram os seus adversários mais difíceis em cada uma das modalidades que você praticou?
Bruno Mestre – No Dadinho, nossa missão em Brasília era ganhar do Bruno Romar! Rsrsrs. Em determinado torneio, o Marcus Amorim, criador do Bola Quadrada, até fez um botão com uma arte embutida dizendo o seguinte: “eu venci o Bruno Romar”. Seria dado ao primeiro que conseguisse a façanha.
Na Modalidade 3 Toques é difícil falar de adversários difíceis… Todos são bons, por se tratar de um jogo muito técnico e tático. Mas já tive a honra de jogar contra monstros da 3 Toques, como Miguel Lemos, Lorival Ribeiro, Leonardo Stumpf, Marcus Motta , Toninho, Elinto Pires, Evandro Gomes, Vander Felipe e muitos outros que estou esquecendo, certamente.
José Carlos – Qual o seu gol mais bonito?
Bruno Mestre – Minha memória não ajuda nada… Hehehe. Vou citar um gol importante que me lembro. Por equipes, em uma final de Brasileiro (Série Prata), jogávamos pelo Clube dos 500, se não me engano contra o Tupi-B. O confronto estava tenso, ainda empatado em todas as mesas. Eu jogava contra o Rodolfo, de Juiz de Fora. Lá pelas tantas, sofri uma falta na defesa que culminou com lançamento para o ataque e pedido de chute a gol. No entanto, meu time estava bem marcado, de modo que apenas meu ponta esquerda chegaria naquela bola que estava longe, perto da marca do pênalti. O goleiro fechou o canto, mas deixou uma fresta. Chutei o prego sem força, pra fazer a bola entrar rolando lentamente na fresta deixada… E ela foi exatamente lá! Abrimos 1 a 0 no confronto geral e encaminhamos nosso primeiro título brasileiro, confirmado nas outras mesas da partida. O Brasileiro ocorreu em Juiz de Fora, em 2015.
José Carlos – Quais foram as suas maiores conquistas, dentro e fora das mesas de jogo?
Bruno Mestre – Fora das mesas, as amizades para sempre que acabamos construindo. Isso é o mais importante de tudo.
Nas mesas, tenho muito carinho pelos títulos obtidos com a equipe do Clube dos 500, grandes amigos. Foram dois Brasileiros da Série Prata (2015 e 2017) e um Estadual Interclubes (2014), o último em companhia do saudoso Miguel Lemos, o que tornou aquela conquista mais inesquecível ainda. Individualmente, tive a honra de conquistar o Torneio Miguel Lemos 2017, promovido pelo Tupi/MG, homenagem que anualmente é prestada a um ser humano ímpar e botonista fantástico. Também não esqueço dos primeiros internos vencidos no Clube dos 500, em 2013 e na AABB/DF, em 2015, jogando contra muitos craques.
José Carlos – A modalidade Bola 3 Toques é considerada por muita gente como fechada em si mesma. Quais as suas considerações sobre essa opinião?
Bruno Mestre – Na verdade, existe o desconhecimento de muitos sobre a modalidade, seja por preguiça de alguns, seja por dificuldades físicas, em razão de usarmos uma mesa maior (o que dificulta seu transporte), pelo uso de bolinha (o que impede a pratica em locais ao ar livre) ou pela exigência técnica e de conhecimento das regras. Além de certa falta de intercâmbio entre todas as modalidades. Na minha visão, a modalidade 3 Toques é a que mais se assemelha ao futebol real, possuindo impedimento, passe, arbitragem obrigatória e diversos outros detalhes que a tornam única. Por isso mesmo, é uma modalidade que exige muito, técnica e taticamente.
Infelizmente, nos dias atuais, muitos prezam pelo divertimento mais rápido, simples e que, em pouco tempo, possibilite que o atleta seja competitivo. E aqui está o maior charme da 3 Toques: é um jogo com outro ritmo, mais pensado, às vezes um xadrez pelas suas variantes táticas. Por isso mesmo, demanda um pouco mais de tempo para familiarização e para a pessoa se tornar competitiva. Mas, para quem tem paciência e perseverança, o prêmio é enorme. Fazer um bom jogo na 3 Toques não é fácil. Mas aquela vitória após uma excelente partida traz um prazer indescritível.
José Carlos – A complexidade e o ritmo da regra da 3 Toques dificulta a sua popularização?
Bruno Mestre – Não acredito muito nisso. A modalidade 3 Toques é extremamente inteligente, exigente e completa. Quem não quer um jogo assim, um desafio como esse? Coloco mais uma eventual dificuldade de popularização nos fatores que citei, como mesa de jogo, limitação de prática ao ar livre e na tendência dos dias atuais pelo divertimento mais simples e rápido. E, principalmente, no desconhecimento por parte de quem não a praticou. Experimentem um dia… A modalidade é sensacional! A assimilação das regras acontece rapidamente. E o tempo de jogo (40 minutos), que para alguns pode ser assustador, garanto, para quem está na mesa passa rápido demais.
José Carlos – A modalidade Bola 3 Toques é mais popular no Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo e Distrito Federal. Existe algum projeto para levar mais fortemente a modalidade para outros Estados?
A Direção da Modalidade possui um projeto fixo de expansão que já trouxe de volta praticantes do AM e PE, estados que contavam com vários praticantes da 3 Toques nos anos 80 e 90. Também há a ideia de levar a modalidade a mais regiões. Nacionalmente, estamos tendo um ótimo retorno quanto a novos praticantes, sejam novatos ou oriundos de outras regras. Nosso ritmo de crescimento tem sido constante, conforme denotam nossos anuários da modalidade. Os praticantes tem mostrado que a modalidade está muito viva e cada vez com maior número de adeptos.
José Carlos – A FEFUMERJ tem uma estrutura descentralizada que abarca diversas modalidades. Conte sua experiência como vice-presidente na nossa federação.
Me sinto honrado em poder auxiliar o Cláudio Pinho e os amigos da Direção da FEFUMERJ. O trabalho desenvolvido pela Diretoria, da qual faço parte há pouco tempo, é exemplar, ao divulgar e apoiar nosso esporte, sem privilégio a nenhuma modalidade específica. Somos todos botonistas, praticantes de diferentes modalidades, e todas têm seu espaço e proteção por parte da Federação. Na Vice-Presidência a troca de ideias e informações com amigos oriundos de outras modalidades tem sido excelente, com o fim maior de elevarmos o Futebol de Mesa no nosso estado.
José Carlos – Compare, por favor, os desafios de suas duas funções, vice-presidente geral da FEFUMERJ e vice-presidente da modalidade Bola 3 Toques na CBFM.
Apesar da nomenclatura semelhante, são funções bem diferentes em si. Na Vice-Presidência da Modalidade 3 Toques na CBFM, temos a responsabilidade de organizar e orientar a modalidade nacionalmente. Isso envolve uma série de variáveis, tais como planejamento e execução de competições, projeto de expansão, regulamentos e consolidação de normas e das regras da modalidade e muitos outros. É bastante trabalho!! Rsrsrs
Já na Vice-Presidência da FEFUMERJ é exercido um papel maior de apoio e auxílio à Presidência da Federação no que se fizer necessário. Minha atuação, assim, se dá mais mediante provocação do Presidente, da Diretoria ou VP’s. Como o trabalho tem sido exemplarmente feito por todos, minhas atribuições, conforme falei, acabam sendo no suporte à Presidência e Diretoria.
José Carlos – Faltou uma pergunta. Por que o apelido Mestre?
Essa foi uma antiga brincadeira de amigos de Petrópolis, cidade na qual morei por alguns anos. O “Mestre” seria um mix entre o Mestre Splinter e o Mestre dos Magos!! Rsrsrs. Eu brinco com o pessoal dizendo que se refere a um estilo mais calado e ponderado de ser… Kkkkkkk
José Carlos – Bruno. Muito obrigado por aceitar conceder essa entrevista ao nosso site. Suas colocações ponderas e respeitosas, mesmo em algumas perguntas difíceis, deixa bastante claro que as importantes funções que você exerce estão entregues em boas mãos.