ARTESÃ PERNAMBUCANA DÁ VIDA AOS BOTÕES DE FUTEBOL DE MESA

Única mulher fabricante de botões em PE, Betânia produz material na sua própria casa

Dos gramados para a mesa. O futebol de botão ganhou dimensão difícil de mensurar. Genuinamente brasileiro, o esporte resiste ao tempo com campeonatos de bairro, estaduais, regionais e nacional. A modalidade é gerida pela Confederação Brasileira de Futebol de Mesa (CBFM), criada em 1992 para organizar, divulgar e fazer a “ponte” entre os competidores para as competições. Mas toda essa estrutura construída ao longo dos anos tem nome e mãos envolvidas. Responsáveis por transformar diariamente o esporte em arte, os fabricantes de botões tornam o jogo, encarado por alguns como brincadeira, uma atividade rara e especial.

Betânia Ferreira Lins é um exemplo disso. Fabricante de botões há 39 anos, a artesã diz que aprendeu a produzir com seu pai, Mário Cavalcanti Lins, conhecido como Nino na modalidade e nas redondezas do Barro, bairro onde foi criado, na Zona Oeste do Recife. Hoje com 47 anos, ela teve seu primeiro contato com o jogo quando ainda era uma criança, aos oito anos. A dificuldade financeira que sua família enfrentava na década de 1970 impulsionou Betânia a entrar no ramo e a encarar o desafio de ser até hoje a única mulher fabricante de botões de Pernambuco.

Quando criança, Betânia tinha uma família formada por seis pessoas: mãe, pai e três irmãs. Das quatro filhas, ela foi a única que acompanhou os passos de seu Nino desde o início e resolveu seguir na profissão. A artesã relata que Márcia Lins, uma de suas irmãs, até se aventurou no ofício, mas desistiu depois do primeiro corte em uma das máquinas. Mesmo com a falta de tato, porém, as pequenas ajudavam fazendo o acabamento do material.

“Meu pai começou a trabalhar na gráfica, mas o retorno (financeiro) era muito pequeno, a situação era muito difícil. Então, ele comprou as máquinas, montou e começou a fabricar. Eu via ele sozinho na oficina e dizia: ‘pai, deixa eu aprender’. Ele falava: ‘não, minha filha! Isso não é serviço para você’. Eu insistia: ‘vai, pai! Quero aprender’. Depois de várias tentativas, seu Nino aceitou ensinar o ofício da fabricação de botões à Betânia. “Ele me colocava em cima de um banco e me ensinava”.

A artista conta que no início foi difícil manusear as máquinas. “Eu levava cada corte…”, lembra. Depois que pegou habilidade, ela passou até a desafiar o pai na fabricação. “Eu ganhava sempre”, diz com bom humor. Inspirado no futebol de campo, em 1970 o futebol de botão ganhou mais adeptos e virou a sensação da época. De esquina em esquina era possível encontrar novos grupos de amigos se reunindo para jogar. “É de geração em geração. Não morre. Vai passando de pai pra filho”, explica a fabricante.

Hoje, Betânia vive no Curado I, em Jabotão dos Guararapes. A casa dela é divida entre as máquinas de trabalho e o seu local de descanso. A artesã também trabalha para uma empresa como ‘freelancer’, produzindo goleiros. Depois de alguns minutos de conversa, a moça mostra que fabricar botões significa também uma forma de sobrevivência, mas é muito mais do que isso. Transparece a saudade que sente do pai, seu companheiro de vida e de profissão. “Gosto de fabricar porque lembro muito do meu pai. Através dos botões ele melhorou a situação dele. É uma alegria, porque é por meio disso que eu me mantenho, através do que ele me ensinou”. Do legado deixado pelo pai, Betânia é a dona das mãos que dão vida ao futebol de botão no estado.

Etapas da fabricação:

Como todo trabalho, fabricar exige técnica e cuidado, principalmente por conta das máquinas utilizadas. Ao todo, Betânia leva cerca de 15 minutos para finalizar todo a construção. Saiba quais são as etapas:

1- Material de acrílico é cortado com a serra elétrica e separado em fileiras. Se o botão for da Seleção Brasileira, por exemplo, a fabricante junta as cores verde e amarela. Quantidade de acrílico e as cores dependem do time que está sendo formado.

2- Material vai para a prensa, onde receber cor e depois é colado.

3- Compasso é utilizado para definir o grau do botão. Uma serra é usada para fazer o molde do círculo. Uma serra de copo corta o botão no tamanho certo. Depois o torno fica encarregado de medir o grau do jogador.

4- Concluída a etapa anterior, o material passa por uma máquina de pressão, que deve ser usada para colocar o pino do botão.

5- Peça é colocada no polidor, máquina responsável por dar o brilho final ao botão. Segundo Betânia, essa última fase é feita “para dar moral aos jogadores”.

Serviço:
O preço dos botões variam de R$ 5 a R$ 200. Betânia produz de acrílico e os de chifre. Os mais baratos são aqueles que possuem grau menor. Os mais caros são os de chifre. As confecções são feitas em casa, mas Betânia vende os botões em um quiosque, localizado na rua Matias de Albuquerque, no bairro de Santo Antônio, no Centro do Recife.

Reprodução: www.folhape.com.br
Fotos: Paullo Allmeida/FolhaPE