A TRAPAÇA, A CONFUSÃO E O EXCESSO DE TOLERÂNCIA
Quando um botonista sai de sua casa para disputar um torneio, o que ele menos deseja é ser ludibriado ou ser envolvido em algum tipo de situação na qual não gostaria de estar ou presenciar. Infelizmente, tanto no nosso meio como em todos os setores da sociedade nos encontramos com indivíduos que não se adequam às normas de convivência social.
No mundo do futebol de mesa, no meu entender, mesmo que sejam minoria, os principais personagens que tornam desagradável algo que deveria ser uma competição com convivência sadia se dividem em três grupos: os trapaceiros, os criadores de situações constrangedoras e aqueles que estão em ambos os grupos anteriormente citados.
Os trapaceiros compõem a parte mais visível dessa “banda podre”. Eles são capazes de qualquer subterfúgio para vencer uma partida. Suas artimanhas são conhecidas de todos e não vale a pena descrevê-las aqui. Existe também uma espécie de canalhice em que dois atletas combinam um resultado para favorecer um deles ou um terceiro mas que, certamente, prejudicará alguém. Outro tipo de engodo é feito por organizadores de competições que manipulam regulamentos e tabelas para favorecer a si mesmos e aos seus pares.
O grupo daqueles que criam situações constrangedoras, que falam palavrões, que chutam ou lançam objetos em seus momentos de frustração contra seus companheiros de esporte e uma miríade de maus comportamentos que, descrevê-los, demandaria muito tempo do leitor desta coluna. Existem também os donos da verdade absoluta, cuja opinião não pode ser, de nenhuma maneira contestada.
Entretanto, o pior de todos os casos é aquele dos raros indivíduos que mesclam as características do primeiro e do segundo grupo supracitados. Seriam a la crème de la crème, ou melhor, la merde de la merde dos problemáticos do nosso meio. Na minha curta trajetória como atleta do futebol de mesa tive a infelicidade de conviver com um deles. Por sorte foi apenas um. Este tipo de gente é nefasta para o esporte pois estraga o ambiente e desagrega os grupos.
Infelizmente, na nossa comunidade, somos tolerantes com esses indivíduos. Exercemos uma espécie de laissez passer, um “deixa estar para ver como é que fica”. Creio que parte dessa tolerância vem da nossa cultura. Apesar de sabermos exatamente quem eles são e o que eles fazem, preferimos mantê-los ao nosso lado, talvez por receio de gerar ainda mais conflitos, talvez por não querer diminuir um grupo que já não é muito grande, talvez porque o problemático é um jogador diferenciado tecnicamente ou talvez pela pueril esperança de que o indivíduo mude seu comportamento pela convivência com os bons.
Na maioria das vezes, comentamos entre nós que fulano, beltrano e cicrano são assim, que é difícil aguentar suas atitudes mas, quando um deles aparece, lhe damos um tapinha nas costas e convidamos para uma partida amistosa ou até mesmo para uma resenha pós-jogo, regada à cerveja. E assim, o tempo passa e as laranjas podres, que mantêm tais comportamentos durante anos e anos, continuam no cesto.
Texto: José Carlos Cavalheiro | Diretor de Comunicação | FEFUMERJ