JOÃO CARLOS: UM CAMPEÃO COM PERSONALIDADE FORTE

“Pega na sexta”. A frase, com o inconfundível sotaque gaúcho, é uma das marcas registradas de um dos craques mais queridos e experientes do futebol de mesa nacional. Pois foi assim, com este tipo de pedido na hora do chute a gol, que João Carlos, comendo pelas beiradas, mas sempre com um jogo eficiente, explorando ao máximo seu Corinthians de bainha aberta, sagrou-se campeão estadual de 2023, na categoria Máster, pelo Botafogo. Um belo feito e uma recompensa ao homem que, aos 64 anos, se declara apaixonado pelo esporte, e que — obra do destino —, nasceu no dia 14 de fevereiro, data em que é celebrado o Dia do Botonista. Um homem de personalidade forte, sem medo de dizer o que sente e o que pensa.

Como você define o futebol de mesa na sua vida?
Defino como um acessório. Mesmo levando o esporte muito a sério e respeitando regras e regulamentos, vejo que ele é sempre um reflexo dos seres humanos. Somos todos muito parecidos, e paradoxalmente tão diferentes.

Há quanto tempo você pratica o esporte?
Comecei a jogar com 12, quase 13 anos, com amigos do prédio onde morava, em Porto Alegre. Mas tive períodos longos sem jogar, pois comecei a trabalhar muito cedo, aos 14 anos. Jogava o famoso toque-toque (no Sul), aqui conhecido como leva-leva.

E como ressurgiu o futebol de mesa na sua vida?
Quando voltei a jogar mais intensamente, apenas em outubro de 1990, na AFFM (Associação Friburguense de Futebol de Mesa), fundada em 1984, quando me mudei para Nova Friburgo.

Nova Friburgo (RJ).

E o que representou para você ser campeão estadual Master em 2023?
Ser campeão é um somatório de muitas coisas, uma consequência da dedicação ao esporte desde que me federei. Só passei a ter mais tempo de jogar depois que me aposentei, há seis anos. Antes disso, não havia tempo.

Mas você não escondeu a emoção após levar a melhor sobre Veras (Liga Fonte) na finalíssima do dia 3 de dezembro, na sede do São Cristóvão…
Sim. Foi uma conquista extremamente difícil. Foi um ano inteiro, com muitas nuances de ritmo de cada jogador. Tive algumas dificuldades físicas em duas etapas, que prejudicaram meu desempenho. Consegui uma classificação, no último instante, numa etapa onde todas as categorias etárias estavam juntas. Passei em 64° lugar, último classificado para as eliminatórias. Saí com um empate de 2 a 2 contra o Paulinho Quartarone, que tinha a vantagem.
Nas finais, cheguei na primeira e na segunda série de jogos sempre com desvantagem de um ponto. Mas, mesmo assim, tive forças para reverter o quadro e conquistei esse campeonato.

Final contra Sérgio Veras, da Liga Fonte.

Em 2024 tem mais?
Espero estar mais condicionado fisicamente para responder bem a cada jogo. Vou manter o mesmo time que, insistentemente, jogo há 17 anos, com as bainhas abertas, tão criticadas (risos). Considero isso quase um feito, já que 99% dos federados abriram mão daquilo que todos jogaram quando começaram, com botões de bainha aberta e pequenos.

Como você avalia o cenário do futebol de mesa no Rio de Janeiro e no Brasil atualmente?
Em um crescente. Há opções para se praticar o esporte em quase todos os clubes federados, de segunda à quinta-feira, e também nos fins de semana. Há, ainda, os Abertos promovidos por ligas independentes. Está evoluindo, embora exista muita reclamação da estrutura, do calor, entre outras coisas, no ambiente da Fefumerj (Federação de Futebol de Mesa do Rio de Janeiro). Mas as pessoas precisam perceber que, no início de tudo (década de 1990) era muito, mas muito mais difícil, se praticar o futebol de mesa.

Quais eram as dificuldades na época?
Não havia uma regra definida, o esporte tinha baixa credibilidade, sem espaço em clubes de camisa, tudo que puderem imaginar de difícil.

E o que melhorou?
Hoje a regra que jogo, na modalidade dadinho 9×3, é homologada oficialmente pela Confederação Brasileira de Futebol de Mesa (CBFM), temos eventos nacionais e estaduais, e, se não me falha a memória, aproximadamente mais de dez Estados do Brasil jogando regularmente nessa regra.

João Carlos no 1º Brasileiro de Dadinho 9×3, em Brasília.

O que espera do futuro do esporte?
Que a gente consiga atingir condições cada vez melhores para o desenvolvimento e a divulgação do nosso esporte. Sei que o caminho é muito longo, mas sempre sou realista sobre as possibilidades, não sou pessimista. Na verdade, eu agradeço pela paciência que muitos têm comigo. Via de regra, vejo que muitos botonistas, que jogam futebol de mesa há muitos anos, ainda não cumprem regras e alguns regulamentos. É preciso evoluir neste aspecto. No mais, viva o nosso futebol de mesa.

Entrevista concedida a Alysson Cardinali | Diretor de Comunicação Dadinho | FEFUMERJ