A VEZ DAS MULHERES NA MESA
O futebol de mesa, no ambiente federado, é tido como um esporte predominantemente masculino. Mas, em 2023, três integrantes do sexo (nada) frágil entraram no cenário estadual para acabar com tal visão e mostrar que as mulheres também têm talento de sobra para colocar o dadinho no filó. Orgulhosas, elas decidiram pegar na palheta e defender seus clubes de coração na busca por gols e vitórias. Natália Vangelotti, 26 anos; Christina Aquino Bocayuva, 54; e Maria Clara de Oliveira Cesar, 12; vão jogar o Estadual por Vasco da Gama, Botafogo e America, respectivamente, dispostas a mostrar que vieram à modalidade para ficar. E, de quebra, servirem de fonte de inspiração para que outras jogadoras cresçam e apareçam no cenário carioca e nacional.
“Decidi me federar para poder aprender com as feras do futebol de botão. Cada campeonato que eu participo é um aprendizado. Felizmente, não vejo distinção quanto à idade ou ao gênero, o que, espero, permita ao esporte ganhar mais visibilidade, ser mais divulgado. Até o ano passado eu era a única mulher federada, e, esse ano, poder dividir as mesas com a Maria Clara e a Christina será a prova de que o futmesa é para todos e todas. Representar o Vasco é um sonho, uma honra. Espero evoluir ainda mais nesta temporada, — frisa Nati, que defende o Cruzmaltino na categoria adulto, pronta para encarar (e desbancar) alguns dos principais craques do Brasil.
Christina, por sua vez, tem como meta se aprofundar técnica e taticamente no jogo e, com o tempo, atuar em alto nível. Mas confessa não entender o fato de as mulheres só terem entrado agora neste universo que une o lúdico com a paixão pelo esporte. “Acho estranho apenas o fato de ainda sermos tão poucas. Um esporte no qual quanto mais sutil for o jogador, mais letal ele é. Um esporte que não depende da força, mas da inteligência, da observação e do controle emocional”, avalia. “É majoritariamente masculino por uma falha na matriz”, brinca a botonista alvinegra, que joga na categoria Sênior e não esconde seu orgulho pelo clube da Estrela Solitária.
“Foi meu primeiro time de coração. Era o time do meu irmão, de quem herdei a paixão, a mesa e o time de botão. Irmão que deixou esse mundo, tragicamente, aos dez anos de idade. Eu tinha quatro na época. Hoje tenho grandes amigos botafoguenses. Admiro a história do clube, jogadores como Garrincha, Didi e tantos outros que trouxeram a arte de jogar bola para dentro do futebol. Amo o Botafogo, embora tenha me tornado tricolor na adolescência”, revela Christina, ciente de que ainda tem muito a ralar em busca de melhores atuações nas mesas, mas sem perder o foco. “Tudo ainda é bastante novo para mim, mas já fiz muitos amigos e a ajuda para evoluir tem chegado generosamente”, agradece.
Pequenina no tamanho, mas gigante no carisma e na delicadeza, Maria Clara vem de uma família de botonistas. Filha de João Cesar e irmã de José e João Gabriel, todos atletas rubros da mais alta categoria, a menina apenas deu sequência a uma paixão que está no sangue da família. Sua meta é, com o tempo, fazer jus ao talento que vem de berço. Com a camisa do America. “De tanto ver meu pai e irmãos jogando botão, surgiu meu interesse pelo esporte. Decidi me federar por influência e desejo deles e está valendo a pena”, observa Maria Clara, que não esconde o otimismo em relação à chegada das mulheres às mesas de botão da Federação de Futebol de Mesa do Rio de Janeiro (Fefumerj). “Vejo isso como um avanço feminino, dominando todas as áreas do mundo”, diz, pronta para fazer dos treinos com os irmãos um caminho para o alto do pódio na categoria Sub-18. “Espero melhorar a cada dia e vencer uma etapa”, avisa, sem falsa modéstia. Que assim seja. Mulheres, sejam bem-vindas às mesas de botão.
Texto: Alysson Cardinali