PAIXÃO BRASILEIRA, O FUTEBOL DE BOTÃO É TEMA DE INUSITADO MUSEU NA HUNGRIA DE PUSKÁS

Coleção de peças do jogo e até troféus de campeonatos da modalidade forma uma curiosa atração na cidade de Szigetszentmiklos

por Eduardo Maia

Todo brasileiro – ao menos os com mais de 30 anos – que já se apaixonou pelo futebol, em algum momento da vida já se viu debruçado sobre um tabuleiro cheio de discos, como se ali acontecesse uma final de Copa do Mundo. O futebol de botão, essa instituição tão brasileira, é, vejam só, uma paixão nacional também na Hungria, com direito a um museu inteiro dedicado à modalidade.

Os húngaros alegam que o futebol de botão é criação deles, e surgiu em terras magiares em 1921. O que contraria a versão mais comum no Brasil, de que o jogo já existia por aqui até que, em 1930, teve suas regras padronizadas a partir do manual “Regras Officiaes do Foot-ball Celotex”, escrito pelo músico, pintor e publicitário Geraldo Cardoso Décourt.

Indefinições históricas à parte, a paixão pelo jogo ou mesmo curiosidade podem ser motivos suficientes para visitar Szigetszentmiklós, cidadezinha a 22 quilômetros de Budapeste que nunca entraria em qualquer guia de viagens não fosse o fato de abrigar a Casa do Futebol de Botão (Gombfoci Háza, em húngaro).

O museu foi formado a partir da coleção particular de Attila  Becz, que tem 65 anos e começou a praticar o futebol de botão aos oito, nos anos 1960.

– No verão, jogávamos futebol nas ruas e em terrenos baldios, depois, no futebol de botão no inverno, não havia muito mais o que fazer para um garoto louco por futebol – disse ele à agência de notícias  AFP – É um esporte nacional tradicional, como a petanca para os franceses ou o beisebol para os americanos.

O espaço do museu é pequeno, e  parece ainda mais acanhado diante do volume do acervo, acomodado em fileiras de armários no pequeno corredor que exibem memorabilia, incluindo botões antigos da década de 1920, troféus de campeonatos diversos  e conjuntos de plásticos com imagens de estrelas dos dias modernos.

É curioso ver as semelhanças e diferenças entre os botões usados por húngaros e brasileiros. Há discos idênticos, daqueles feitos com plástico ou madrepérola, mas também alguns bem exóticos, como uns que são apenas anéis. A palheta usada nos tabuleiros magiares, mais comprida, como uma tira, também não é a mesma da conhecida pelos jogadores brasileiros.

O húngaro Zoltan Bottyan, campeão mundial de futebol de botão, joga com seus botões favoritos no tabuleiro do museu dedicado à modalidade em Szigetszentmiklós, nos arredores de Budapeste Foto: ATTILA KISBENEDEK /

Fotografias nas paredes mostram jogadores lendários como Pelé e Ferenc Puskás agachados sobre as mesas de futebol de botão, prova da popularidade do jogo ao longo das décadas. No país do leste europeu, os botões foram produzidos em massa pela primeira vez na década de 1940, com fotos de jogadores coladas na década de 1950.

– Foi uma época de ouro para o futebol de botão e a Hungria, liderada por Puskás, estava no auge do futebol mundial – disse Becz.

Falando em Puskás, é bem possível imaginar que ele e seu amigo de infância Jozsef Bozsik, que nasceram em 1927 e 1925, respectivamente, tenham brincado juntos de futebol de botão quando crianças, no bairro de Kispesti, na periferia de Budapeste, ainda sem saber que seriam os maiores jogadores da seleção húngara que encantou o mundo na Copa de 1954.

Mais informações sobre o museu no site  gombfocihaza.hu e no Facebook.

Reprodução: O Globo
Fotos: ATTILA KISBENEDEK / AFP