FEDERAR OU NÃO FEDERAR? EIS A QUESTÃO!
O Rio de Janeiro, principal palco da modalidade Dadinho (regra 9 x 3) no Brasil, conta, atualmente, com aproximadamente 150 federados – maioria no universo de 533 atletas em todo o país – conforme vimos na coluna publicada em julho. Mas, o que levou essa centena e meia de jogadores a optar por defender uma agremiação em competições oficiais promovidas pela FEFUMERJ, a federação carioca, ou pela Confederação Brasileira de Futebol de Mesa (CBFM)? Curiosidade? A paixão por um clube? O desafio de encarar as feras do esporte? A busca por crescimento técnico? A chance de ganhar projeção e conquistar títulos importantes?
Os motivos são variados. Fato é que, se levarmos em conta o universo de praticantes amadores em ligas independentes existentes na Cidade Maravilhosa, a quantidade de botonistas cresce exponencialmente, assim como a chance de surgirem novos craques federados. Flamengo, America, Fluminense, Vasco e Botafogo são clubes que ocupam o imaginário de boa parte de quem pratica o futebol de mesa e ambiciona ir além da mera diversão nos fins de semana. Atualmente, tais ligas independentes são verdadeiros centros de excelência na revelação de possíveis craques nas mesas em competições oficiais. Exemplos disso não faltam. A Liga dos Amigos do Futebol de Mesa (LAFUME) é o retrato dessa nova mentalidade na busca por algo mais na hora de palhetar um botão.
Democrática, a LAFUME, primeira liga independente a se filiar à Federação de Futebol de mesa do Estado do Rio de Janeiro (FEFUMERJ), em 2019, admite entre seus associados membros federados, que desejam competir em alto nível, e não-federados, que jogam ludicamente apenas. Todos disputam os campeonatos com o manto esmeraldino dispostos a difundir a modalidade, sempre respeitando as diferentes formas de se encarar o esporte.
“Voltei a jogar há cinco anos e atualmente pratico um futebol de botão em bom nível. O único lugar que falta é jogar na federação, então decidi me federar e federar a LAFUME na FEFUMERJ. Foi algo natural. Tive o apoio de membros da liga que pensam como eu e também desejam se testar como federados. Então, partimos para essa fase. O pioneirismo é bacana. O potencial da modalidade 9 x 3 é enorme pela quantidade de adeptos que existem. Juntos, podemos ir bem longe”, avalia Leonardo Azeredo, presidente da Lafume, que celebra o fato de sua liga mesclar, harmoniosamente, perfis tão distintos.
Há, porém, ligas independentes que não aceitam a presença de atletas federados em suas fileiras, nas quais o único intuito é jogar entre amigos e preservar a essência da brincadeira do futebol de botão. O que não impede que sejam revelados jogadores talentosos e com imenso potencial para se tornarem atletas federados. É o caso da liga onde joga Carlos Fernandes (Belga), um dos mais promissores atletas na atualidade, que admite estar muito perto de fechar com o Flamengo, seu clube do coração, para a temporada de 2022. Com isso, passará apenas a organizar os campeonatos na liga.
“Federar, para mim, hoje, é uma experiência que ainda não tive e quero vivê-la. A vontade de jogar um Carioca, um Brasileiro, aumentou bastante, assim como o desejo de defender um clube e a curiosidade de ver como funciona esse universo. Quero viver isso, mesmo que eu tenha que me afastar da liga durante esse tempo. Como federado vou viver essa experiência nova e ver como é, para depois ter uma opinião mais sólida sobre tal situação”, revela Belga, sem abandonar suas raízes. “O papel de uma liga independente é super importante na entrada de pessoas no nosso esporte”, frisa.
A maior adesão de jogadores de ligas independentes à federação também permitirá, caso aconteça, dirimir o mito de que o clima, em competições oficias, é, digamos, muito carregado. Fabiano Woddy, atleta do Vasco e presidente da Botão Rock Club, é um dos que minimiza a rivalidade federados x não federados. Segundo ele, o clima mais descontraído, nas ligas, e mais sério, na federação, não é empecilho para que mais praticantes do futebol de botão se aventurem em competições oficiais.
“Nas ligas independentes, você conhece e joga com alguns federados, conversa com eles e faz um belo intercâmbio sobre como é jogar etapas da federação. Recomendo tal experiência. É muito bacana ter a possibilidade de disputar campeonatos estaduais e nacionais defendendo um clube. Ainda mais se for o seu clube do coração, como é o meu caso. Defender o Vasco é um sonho realizado. Viver essa experiência é muito bacana”, frisa Fabiano, que se diz satisfeito por poder palhetar tanto no ambiente federado quanto no independente, na Botão Rock Club. “Entendo as ligas independentes que não aceitam federados, para defender quem está iniciando e não perder a essência do futebol de botão raiz, mas vale muito a pena, para quem desejar, se permitir experimentar a condição de atleta federado. Campeonatos válidos pela federação não são um bicho-papão. A galera é competitiva, mas criou-se um monstro sobre isso. Me federei em 2018 e não era nada daquilo que falavam. É um ambiente no qual você encontra as mesmas pessoas das ligas independentes que aceitam federados. É competitivo, mas, geralmente, saudável”, avisa.
Para encerrar, sou adepto da mesma opinião de meus amigos Léo Azeredo, Belga e Fabiano. Me federei, pela Lafume, em 2019 e, devido à paralisação das competições oficiais, em razão da pandemia de Covid-19, ainda não tive a experiência de disputar uma competição oficial. Mas as expectativas são as melhores possíveis. Neste período pandêmico, venho participando, com os devidos cuidados sanitários, de competições amadoras, com federados ou não, e o incentivo que recebo à empreitada de palhetar nas competições da FEFUMERJ e da CBFM só me faz ver que optei pela decisão correta. É claro que vale o livre arbítrio de todo jogador, mas estou muito motivado a ser um atleta federado. Afinal, o que vale é jogar botão.
Texto: Alysson Cardinali
Reprodução: Mundo Botonista