O MESTRE DOS BOTÕES

Imagem: Fabiana Batista/UOL

Adriano Moutinho, 65 anos, passava a mão nas fichas de pôquer do pai e fazia as próprias peças, junto dos irmãos. A tática virou profissão. Adriano aprendeu a usar torno em 1983, quando conheceu Juarez Reis, um torneiro da rede ferroviária federal, já falecido, pioneiro na fabricação artesanal de botões. Quase vinte anos depois, Adriano foi pioneiro ao abrir a Toca do Botão, primeira loja exclusiva de futmesa, do Brasil. Em 1998, decidiu se dedicar exclusivamente ao ofício e abriu a loja no centro do Rio.

Foi estendendo os tentáculos. Além dessa loja, abriu em 2000 a Oficina do Botão, com o mesmo objetivo, no Shopping Boulevard, em Vila Isabel. Depois, em 2001, no Shopping Barra Garden, na Barra da Tijuca. Nenhuma delas aguentou os altos preços de aluguel. A do centro fechou em 2001, a da Barra em 2004, e a última, com o aluguel e condomínio batendo R$ 12 mil, fechou em 2007. As três fizeram história. Chico Anysio, por exemplo, era um dos frequentadores da loja da Barra e passava horas jogando na mesa de Moutinho. “Ele era fanático por botão.”

O artesão passou, então, a vender online e em feiras de rua. Ficou cada vez mais conhecido no universo dos botonistas. Colecionadores e Alexandre Schmidt, estudioso do esporte, afirmam que Adriano é o fabricante de botões mais antigo, em atuação, do Rio.

Como atleta, Moutinho foi campeão estadual na modalidade Bola 12 Toques e, em 2005, no Disco. Já na diretoria da Fefumerj, o botonista foi um dos responsáveis por oficializar, no início dos anos 2000, o “Dadinho 9×3” nos campeonatos estaduais da federação. O diferencial do Dadinho 9×3 é a própria bola, um dado minúsculo. “9×3” significa que quem está em posse da bola tem o direito de nove passes, e cada jogador pode dar três toques seguidos, até revezar com outro de seu time. “Todo mundo já jogou. Até os jogadores de outras modalidades, mesmo que moleque.” Antes disso, a modalidade era amadora.

Adriano, entretanto, teme pelo futuro do esporte. “Minha preocupação é daqui algumas décadas. Mesmo que haja um aumento entre os interessados, o inchaço é visto, apenas, na categoria adulto e temos pouca adesão da geração sub-18”, afirma, nostálgico.

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Texto: Fabiana Batista