O ENCANTO INTEMPORAL DO GOMBFOCI

Sob uma pizzaria na ilha de Csepel, um grupo de entusiastas mantém viva uma cultura secular de nicho peculiar à Hungria. Gombfoci. Um primo do “footy button” foi popularizado em uma época em que as famílias se reuniam em torno de rádios para entretenimento. O jogo se espalhou, botões tornaram-se colecionáveis ​​e gerações cresceram em torno da mesa gombfoci. Os hábitos de passatempo mudaram de comunal para digital, mas gombfoci mantém seu apelo retro. Em 2013, um museu dedicado ao jogo foi aberto em Szigetszentmiklós, onde um clube esportivo joga na principal liga da Hungria. O museu hospeda sua feira de primavera para colecionadores.

Agora categorizado como um Hungaricum, ou seja, um produto único para a nação, como o porco mangalica ou o licor Unicum, o gombfoci é um jogo inventado nas cozinhas da Hungria há um século ou mais.

Você poderia dizer que não há nada mais húngaro do que o gombfoci mas isso não é estritamente verdadeiro. O que é mais húngaro é um húngaro tentando explicar gombfoci.

Em seu restaurante Pizza Mundial, em Szigetszentmiklós, lar do primeiro e único museu de gombfoci do mundo, Gábor Veress aceita o desafio.

“Bem, você tem dois jogadores. Ou você poderia ter um. Ou uma equipe. E então, você tem certos movimentos, toca se você gosta e, então, hum … na verdade, é impossível explicar.”

Mais do que tudo, o gombfoci liga os homens da nação. Quando o amigo de Gábor, András Becz, estava sob pressão para limpar a casa da família de sua coleção exclusiva de times de gombococi, um hobby que remonta a 50 anos, o porão da Pizza Mundial foi limpo e transformado no museu de hoje.

Uma viagem para a infância eterna, com os seus botões e retratos reverenciados, o museu é também um santuário para Miklós Fehér, o internacional húngaro que desmaiou e morreu ao jogar pelo Benfica em 2004.

Aqui em Szigetszentmiklós, a cerca de 15 km ao sul do centro de Budapeste, na linha de trem H6 HÉV, os jogadores de gombfoci se reúnem, jogam e trocam de roupa.

Como o esporte que imita, o gombfoci veio da Inglaterra para a Hungria. No início dos anos 1900, quando os treinadores ingleses mostravam aos húngaros como jogar futebol, eles ensinavam a estratégia da equipe com botões sobre uma mesa.

Levando o futebol como patos para a água, esses jogadores reproduziram essas demonstrações táticas em casa. Usando o que quer que pudessem encontrar, geralmente um botão, gomb, ou dois, eles transformariam a mesa da cozinha em uma réplica de um campo de futebol (foci). Assim nasceu o gombfoci.

“O jogo realmente decolou no início dos anos 50”, diz Gábor. “Durante a era de ouro de Puskás e Bozsik, quando o futebol húngaro dominou, todos queriam imitar seus heróis. Botões de gombfoci começaram a mostrar os rostos de jogadores famosos na patte superior. Os meninos poderiam realizar partidas entre equipes diferentes e logo havia times produzidos a cada temporada ”.

O exemplo mais valioso do Gombfoci Háza Múzeum é o que representa a equipe da Hungria, que venceu a Inglaterra por 7 a 1 em 1954. O mais raro vem do Brasil.

Depois que o gombfoci se estabeleceu os húngaros tentaram exportar o jogo para a Inglaterra. Como as crianças já praticavam seus próprios jogos de futebol de mesa, as tentativas decairam em ouvidos surdos. O Brasil foi uma história diferente.

“Há dois países principais onde o gombfoci é jogado”, diz Gábor. “A Hungria, onde foi inventado, e o Brasil, onde 1,5 milhões de pessoas ainda jogam”.

O que eles jogam é uma questão de conjectura. Assim cada húngara teve diferentes regras , cada clube local desenvolveu sua própria maneira de jogar. As origens são vagas, não está muito claro como o jogo foi regulamentado – uma fonte refere-se a uma reunião em 1958 no venerável restaurante de Budapeste, no que hoje é a praça Ferenciek tere.

Hoje, os clubes na Hungria têm um conjunto de regras feitas em comum acordo. Complicadas. Diferentemente do Brasil. “Os brasileiros adotaram o chamado jogo de 12 toques”, explica Gábor. “Cada jogador retém a posse por tanto tempo até que ele tenha que chutar no gol. Então passa para o oponente ”.

Sempre que a Copa do Mundo de gombfoci é disputada no Brasil – Gábor e seus companheiros foram para o Rio e São Paulo – todos jogam com regras brasileiras. Aqui na Hungria, o húngaro governa. Nenhum comentário sobre quem ganha onde.

O calendário doméstico tem quatro rodadas, uma para cada temporada. O Szigetszentmiklós costuma se sair bem, mas cai contra adversários mais fortes de Szeged ou Komló.

“Isso realmente não importa”, conclui Gábor. “É o jogo que conta. Quando tudo estiver dito e feito, gombfoci é sobre família. ”

Gombfoci Háza Múzeum
Aberto com hora marcada (06 20 806 1013) na Pizza Mundial, Rua Bajcsy-Zsilinszky Loja 2/B
H6 trem suburbano de Közvágóhíd para József Attila-telep (a cada 20-30 minutos, tempo de viagem 35 minutos).

Reprodução: https://welovebudapest.com/